Inteligência Empresarial e Competitiva


(* ) Originalmente publicado na revista eletrônica do DIPOL, Polícia Civil de São Paulo.


As Atividades de Inteligência, nos tempos atuais, não se restringem mais à histórica vocação da Inteligência voltada à guerra. Vários setores desenvolveram práticas próprias, sempre baseadas no processo que, sinteticamente, pode ser resumido em: identificar o problema, coletar dados, analisar, produzir o conhecimento pertinente e apresentar.

Na esteira desta difusão, a gestão da Inteligência pode ser encontrada sob as mais diferentes denominações: nas empresas, como Inteligência Empresarial e, em alguns setores das mesmas, como Inteligência Competitiva; no Ministério Público já há toda uma atividade baseada em processos semelhantes e que alguns autores denominam Inteligência Ministerial (NETO, 2009), que teria como objetivo subsidiar ações do MP nas áreas cível e criminal; nas organizações policiais, como Inteligência Policial ou Inteligência da Segurança Pública; nos governos, a tradicional Inteligência de Estado, dentre outras. E um setor que tem se destacado nesta atividade é aquele que reúne dados da área financeira, sejam os de Inteligência Fiscal - normalmente ligados às Secretarias Estaduais ou à Receita Federal - sejam os de Inteligência de Operações Financeiras, que dão suporte às investigações de outros crimes financeiros, como fraude em licitações ou lavagem de dinheiro, por exemplo.

A criminalidade mudou e, atualmente, tão perigosas (ou mais!) que as armas de criminosos são as canetas de alguns, tanto na vida privada quanto na vida pública. 


As sociedades modernas com seus enormes estímulos ao consumismo, estimulam - também - diversas formas de corrupção, que - na maioria das vezes- é a ferramenta capaz de perpetrar a maioria dos crimes financeiros. Já existem estudiosos que se preocupam em vincular tais fatos com o comportamento econômico e psicológico, em estudos preciosos para agentes e analistas de Inteligência Financeira (JESUS, 2008).

A corrupção propicia, dentre outros males, um ambiente contaminado capaz de influenciar o comportamento daqueles que são obrigados a conviver com os corruptos:

Normalmente, somos levados a pensar que a aquisição e a posse de riquezas materiais oferecem como premissa implícita que os grupos sociais de maior poder econômico-financeiro são mais satisfeitos ou felizes. A história e a literatura mostram que isso não ocorre assim. Uma renda básica e razoável com um aumento constante pode ser mais satisfatória e estar vinculada à felicidade do que uma alta renda estacionada. A satisfação das pessoas não depende do nível absoluto de renda, mas do seu nível relativo, quando é comparada com os outros membros do grupo social a que eles pertencem. A percepção subjetiva da felicidade depende mais das projeções e fantasias desenvolvidas por nós sobre o que o dinheiro pode oferecer do que aquilo que realmente é real. (JESUS, 2008. pp.19-20).

Cabem aos agentes e analistas de Inteligência, cada vez mais, entender estas dinâmicas, pois a compreensão delas permitirá que a Atividade de Inteligência Policial possa cumprir com duas de suas importantes vertentes: a primeira é a produção de conhecimento capaz de subsidiar investigações criminais em áreas complexas, como a de crimes financeiros; a segunda, de caráter preventivo, é a de subsidiar políticas públicas compatíveis com ambientes organizacionais saudáveis, que prezem pela competência e dedicação ao trabalho.

Um exemplo da Atividade de Inteligência capaz de transitar por estas duas vertentes foi a produção de conhecimento desenvolvida pelo Departamento de Inteligência da C.G.A.- Corregedoria Geral da Administração, da Casa Civil, Governo do Estado de São Paulo, que culminou com a chamada Operação Atestado, deflagrada em 05/06/2008, pela Seccional Centro. O combate à emissão e utilização de atestados médicos falsos, "comprados" em locais de grande circulação na cidade de São Paulo, foi o objetivo geral da operação que culminou com 19 indivíduos presos. No entanto, meses antes, ela surgiu das atividades de Inteligência da C.G.A. que identificou no absenteísmo de funcionários públicos, a utilização - por uma pequena parcela dos mesmos - de atestados médicos falsos. O resultado desta operação policial propiciou, dentre outros efeitos, a redução de faltas fraudulentas ao trabalho e, principalmente, teve um efeito pedagógico no sentido de mostrar que por mais "esperto" que o indivíduo acredite ser, a polícia está vigilante. 

Ainda a atividade da C.G.A. propicia a identificação de fraudes em licitações, acompanhamento na execução de contratos, combate a corrupção, dentre outros.

Enfim, cada vez mais, parece que o caminho da Inteligência Policial é a especialização para que possam ser subsidiadas decisões importantes que representem respostas repressivas qualificadas a uma criminalidade complexa e articulada.

Herbert Gonçalves Espuny
Investigador de Polícia, atualmente no Departamento de Inteligência da Corregedoria Geral da Administração. Mestrando no Programa Interdisciplinar Adolescente em Conflito com a Lei (UNIBAN-SP), especialista nas áreas de Segurança Pública (FESPSP-SENASP) e Segurança Empresarial (ANHEMBI-MORUMBI).

REFERÊNCIAS:

JESUS, Fernando de. Comportamento Econômico, Corrupção e Inteligência: Uma Abordagem Metacognitiva. Goiânia: AB, 2008.

NETO, Wilson Rocha de Almeida. Inteligência e Contra-Inteligência no Ministério Público. Belo Horizonte: Dictum Editora, 2009.